segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Potencialidades e desafios dos REA

Retomemos novamente à definição de Recursos Educacionais Abertos, já referida na Introdução aos REA, a definição mais comummente utilizada é a da Unesco:
 “materiais digitais oferecidos livremente e abertamente entre educadores, estudantes e autodidatas para usar e reusar no ensino, aprendizagem e pesquisa” (OCDE/CERI, 2007a)

Mas qual o significado de “open” e que deveremos considerar um recurso aberto?

Segundo Hilton III &Wiley (2010), citando McMartin (2007) um recurso aberto será aquele que está disponível livremente para outros reusarem em diferentes contextos. Ademais, aqueles autores referem ainda Wiley (2009), que explora níveis diferentes de abertura através dos quatro “Rs”:

Reuse – Nível base de abertura. Uso do todo ou de uma parte de um trabalho para os seus propósitos (ex.: descarregar um artigo e lê-lo a qualquer altura)
Redistribute – As pessoas podem partilhar o seu trabalho com outros (ex.: enviar um email a um colega com um artigo digital)
Revise – As pessoas podem modificar, traduzir ou alterar a forma do trabalho (ex.: traduzir um livro de inglês para português e colocá-lo em áudio)
Remix – Pegar em dois ou mais recursos e combiná-los para criar um novo recurso (ex.: combinar diferentes conferências de um curso e combiná-las num vídeo criando um novo curso).  Hilton III &Wiley (2010)

Segundo Wiley (2009), quanto mais destes níveis forem utilizados, maior será o nível de abertura. Veja-se a seguinte representação:


  Fonte: Hilton III & Wiley (2010) [adapt.]


Segundo D'Antoni (2008, pp. 14-15), os maiores produtores, adaptadores, partilhadores são os ligados ao ensino (instituições educativas, professores, estudantes, autodidatas). Ou seja, neste momento, os grandes beneficiadores deste movimento de abertura, que se tem feito sentir, serão em primeira linha estes académicos (OCDE/CERI, 2007b, pp. 39-55) (Hylén, 2006)

Potencialidades
As potencialidades que esta evolução, desencadeada pelo surgimento da Web 2.0, que permitiu uma mudança do normal utilizador da rede de consumidor passivo para participante ativo, através das suas ferramentas de construção, adaptação e colaboração (O'Reilly, 2005), são imensas e estão intrinsecamente relacionadas com as vantagens associadas aos REA. De entre as várias existente reparemos aquelas relativas ao educadores:
• The altruistic motivation of sharing (as for institutions), which again is supported by traditional academic values.
• Personal non-monetary gain, such as publicity, reputation within the open community or “egoboo” as it is sometimes called.
• Free sharing can be good for economic or commercial reasons, as a way of getting publicity, reaching the market more quickly, gaining the first-mover advantage, etc.
• Sometimes it is not worth the effort to keep the resource closed. If it can be of value to other people one might just as well share it for free. (OCDE/CERI, 2007a, p. 12)

Desafios

Repare-se que para que um das presunções dos REA, segundo a definição da Unesco de 2002, é o acesso ao conhecimento (Atkins, Brown, & Hammond, 2007). No entanto, este só pode existir somente quando há ligação à internet. Como dotar as múltiplas escolas e os vários lares que ainda se encontram desprovidos de tal ligação? De que forma poderão os REA beneficiar todos aqueles que não têm ligação à internet para aceder aos diversos conteúdos aí colocados? São os REA, de facto, um conjunto de recursos aberto a todos ou somente a um grupo de privilegiados, diga-se países desenvolvidos ou em via de desenvolvimento, e restrito a grupos confinados (académicos) (Mulde, 2008, p. 90)? Esta é uma das críticas aos REA referida por Esham (2011). Embora sejam feitos esforços para que o conhecimento em todas as partes do mundo seja geral, existe ainda locais onde simplesmente não é ainda possível ter acesso a estes avanços tecnológicos que permitem uma educação a qualquer hora (Lane, 2009). No entanto, a educação em alguns países continua a pertencer a uma elite e não extensiva a todos, como o Professor Ihron Rensburg numa entrevista a Bongani Nkosi disse, referindo-se à quantidade de estudantes de origens desfavorecidas que tentavam inscrever-se na Universidade de Joanesburgo "It would be criminal do deny them access" (Nkosi, 2012). 

Outro desafio que se coloca é a melhoria de qualidade dos REA que estão na rede e que poderão vir a surgir nos próximos tempos. Quem certifica essa qualidade? Que trâmites seguir nessa certificação de qualidade? A qualidade é uma das prioridade manifestada pelo relatório da Unesco & COL (2011, pp. 13-14)

A constante produção, adaptação, partilha e uso das informações que abundam na rede, relembra algo que George Siemens referiu numa entrevista à educare.pt:
"o maior desafio que os indivíduos e as organizações vão enfrentar nas próximas décadas será dar sentido a esta abundância [de informação]" (Siemens, 2010) 
Ademais, segundo o relatório OLCOS Roadmap 2012, os educadores seriam os primeiros a ter interesse no uso, adaptação e criação de REA. Contudo, é ainda referido que a maioria dos educadores não tem tempo nem as capacidades necessárias para criar estes materiais de educação e faltam-lhes incentivos para tal (OLCOS, 2007, pp. 24-25). Como colmatar estas lacunas na formação (OECD/CERI, 2007, p. 17) e como criar tempo e incentivos para tornar atrativa a criação de REA?


Como armar todos os usadores do conhecimento das diversas formas de licenciamento existentes que permitem o uso, adaptação e mescla de recursos existentes?

Conclusão
Embora tenham sidos criados guias orientadores para os vários intervenientes (governos, instituições, académicos e entidade de acreditação de qualidade) (Commonwealth of Learning & UNESCO, 2011), a verdade é que ainda existem alguns desafios por enfrentar para que os REA sejam universais e acessíveis a todos como idealmente seria desejado.

Imagine a world in which every single person is given free access to the sum of all human knowledge. (Downes, 2007) [citando Jimmy Wales]

David Wiley (2012), na apresentação que se segue, demonstra como os REA são uma evolução natural na forma como a partilha de conhecimento tem evoluído na rede. Wiley percorre as motivações para a criação de REA, indica as implicações para a educação, refere os custos inerentes e instiga à produção com qualidade, à manutenção dos REA existentes e à inovação dos REA por criar.
Why Be Open? More presentations from David Wiley Licença CC: CC Attribution-NonCommercial-ShareAlike License


José Mota (2011) participou na conferência myMPeL, explorando exatamente esta temática. Define REA, tipos de REA, distingue níveis de abertura, tipos de licença Creative Commons, antes de revelar as potencialidades e desafios envolvidos na criação, uso, adaptação e partilha de REA.

Bibliografia:

Atkins, D., Brown, J. S., & Hammond, A. (fevereiro de 2007). A Review of the Open Education Resources (OER) Movement: Achievements, Callenges, and New Opportunities. Obtido a 1 de novembro de 2011, de http://www.hewlett.org/uploads/files/Hewlett_OER_report.pdf
Commonwealth of Learning & UNESCO. (2011). Guidelines for OER in Higher Education. Obtido a 10 de novembro de 2011, de Taking OER beyond the OER Community: http://www.col.org/PublicationDocuments/Guidelines_OER_HE.pdf
D'Antoni, S. (fevereiro de 2008). Open Educational Resources - The Way Forward. (U. &. IIEP, Ed.) Obtido a 10 de novembro de 2011, de OERWIKI: http://oerwiki.iiep.unesco.org/images/4/46/OER_Way_Forward.pdf
Downes, S. (2007). Models for Sustainable Open Educational Ressources. Obtido a 9 de novembro de 2011, de http://ijklo.org/Volume3/IJKLOv3p029-044Downes.pdf
Esham, B. (11 de outubro de 2011). Open educational resources. Obtido a 6 de setembro de 2011, de Wikipédia: http://en.wikipedia.org/wiki/Open_educational_resources
Hilton III, J., & Wiley, D. (2010). The Creation and Use of Open Educational Resources in Christian Higher Education. Obtido a 30 de outubro de 2011, de Brigham Young University: http://contentdm.lib.byu.edu/cdm4/item_viewer.php?CISOROOT=/IR&CISOPTR=759&CISOBOX=1&REC=13#metajump 
Hylén, J. (2006). Open Educational Resources: Opportunities and Challenges. OECD’s Centre for Educational Research and Innovation. (O. C. Innovation, Ed.) Obtido a 1 de novembro de 2011, de OCDE: http://www.oecd.org/dataoecd/5/47/37351085.pdf
Knosi, B. (2012, 13 de janeiro). It would be criminal to deny them access. Mail&Guardian Online. Obtido a 27 de janeiro de 2012, de http://mg.co.za/article/2012-01-13-it-would-be-crimincal-to-deny-them-access
Lane, A. (2009). The Impact of Openness on Bridging Educational Digital Divides. The International Review of Research in Open and Distance Learning Vol 10, No 5. Obtido a 20 de janeiro de 2012, de IRRODL: http://www.irrodl.org/index.php/irrodl/article/view/637/1396 
Mota, J. (2011). Recursos Educacionais abertos: Potencialidades e desafios [Apresentação]. Obita a 21 de outubro de 2011, de SlideShare: http://www.slideshare.net/josemota/recursos-educacionais-abertos-potencialidades-e-desafios 
Mulde, J. (2008). Knowledge Dissemination in Sub-Saharan Africa: What Role for Open Educational Resources (OER)? Obtido a 21 de novembro de 2011, de http://www.gg.rhul.ac.uk: http://www.gg.rhul.ac.uk/ict4d/workingpapers/mulderOER.pdf
OCDE/CERI. (2007a). Giving Knowledge for Free - THE EMERGENCE OF OPEN EDUCATIONAL RESOURCES. Obtido a 1 de novembro de 2011, de http://www.oecd.org/dataoecd/35/7/38654317.pdf
OECD/CERI. (2007b). Learning in the 21st Century: Research, Innovation and Policy. (OECD/CERI, Ed.) Obtido em maio de 2011, de OECD/CERI International Conference: http://www.oecd.org/dataoecd/39/51/40554230.pdf
OLCOS. (janeiro de 2007). Open Educational Practices and Resources - OLCOS Roadmap 2012. (G. Geser, S. Research, & E. Grouo, Edits.) Obtido a 8 de novembro de 2011, de Open e-Learning Content Observatory Services: http://www.olcos.org/cms/upload/docs/olcos_roadmap.pdf
O'Reilly, T. (30 de setembro de 2005). What Is Web 2.0. Obtido em abril de 2010, de http://oreilly.com: http://oreilly.com/web2/archive/what-is-web-20.html
Siemens, G. (12 de abril de 2010). A informação torna-se conhecimento através das conexões. Obtido em maio de 2010, de www.educare.pt: http://www.educare.pt/educare/Atualidade.Noticia.aspx?contentid=7803CC2C0128DB46E0400A0AB8002557&schemaid=&opsel=1
Wiley, D. (2012). Why OER [Apresentação]. Obtida a 27 de janeiro de 2012, de Slideshare:  http://www.slideshare.net/opencontent/why-be-open   

Revisto a  27 de janeiro de 2012
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1 comentário:

  1. Olá Teresa!
    Parabéns pelo post desenvolvido. A imagem da pirâmide invertida acerca do nível de abertura transmite-nos claramente que se existir maior liberdade de acesso aos recursos, melhor poderá ser a edificação do conhecimento. A reutilização, a adaptação, o “remix” e a partilha de REA permitem que exista um acesso livre, propagando o saber e alargando a aquisição de competências numa sociedade que cada vez se encontra mais exigente.
    Também concordo quanto à melhoria dos REA que se encontram disponíveis…um dos grandes desafios será o de controlar e talvez “catalogar” de um modo adequado e com regras exigentes os REA que são disponibilizados…”dando sentido a esta abundância de informação” de que Siemens nos fala.
    Bom trabalho!
    Miguel Coelho

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